domingo, 9 de novembro de 2014

Resenha do filme Ninfomaníaca de Lars Von Trier

No volume I de Ninfomaníaca, Lars apresenta a personagem principal e alguns indícios de sua personalidade. A ninfomania é bem escancarada: logo no início do filme Joe começa a contar sua história a Seligman, homem que a resgata em um beco, para a qual se afirma como uma pessoa ruim. Ao contar suas histórias a ele, revela o comportamento compulsivo por sexo e se afirma como ninfomaníaca. Nunca como doente, viciada ou compulsiva. 

Eu costumava acreditar que quem é dependente de algo ou alguma substância pode ser dependente de qualquer coisa. No filme "Borderline", de Lyne Charlebois, e no "Lie with me/Deite comigo" de Clement Virgo, a questão da compulsão por sexo é abafada por dependência química e emocional. As personagens são dependentes do sexo, mas não só porque o cerne do vício está no prazer sexual: são personagens carentes, emocionalmente fragilizadas e dependentes. Em ninfo, Joe, mesmo com uma relação conturbada com sua mãe e a perda trágica do pai, não sente essa carência. O sexo para ela é um desafio, é uma conquista, uma caça na qual ela é presa e predador. Joe é viciada em sexo pelo prazer em si, não importando quais meios ou decisões deverá tomar para obtê-lo.

Ninfomaníaca, ao meu ver, não é um filme pornográfico ou erótico, como muito se disse por aí. Algumas cenas realmente são erotizadas e capazes de dilatar as pupilas entre otras cositas más, mas ao todo, o filme trata de um comportamento limítrofe, de recalques (não no mesmo sentido empregado pela filosofa contemporânea), preconceitos, moralismos, machismo, hipocrisia e sofrimento. Principalmente sofrimento.

Ao explorar diversos medos, tabus, perversidades, condutas morais e éticas, o filme quase se apresenta como uma cartilha do quê não fazer, sob o ponto de vista da sociedade calcada em preceitos (ou preconceitos?) éticos, morais e religiosos que conhecemos. O falso moralismo recorrente na obra de Lars aparece mais evidente e chocante na segunda parte. Assim como em seus outros filmes, o diretor faz esse jogo de vítima e agressor com seus personagens. A benevolência e compreensão de Seligman é do mesmo tamanho da que os habitantes de Dogville sentiam por Grace. A figura de Seligman aqui é a de um salvador, um herói velho, nerd e compreensivo que tenta sempre amenizar as culpas que sua "amiga" carrega. Inicialmente. 
Focando meu texto no volume II, é nessa segunda parte que Seligman compartilha um pouco mais de sua vida e justifica a ausência de sentimentos e sensações perante as histórias sexuais: o solitário amigo é virgem e se considera assexuado. É nesse momento em que o diálogo repleto de lembranças dissonantes torna-se ainda mais sórdido, uma vez que a agonia, o desprezo e as perversões vem à tona. O volume I também apresenta tais características, mas com uma aura sedutora e excitante ao público espectador. Já na segunda parte, a sensualidade de Joe/Charlotte é mascarada e já não se vê aquele furor em seus olhos e sim um desejo doentio. 
Com metáforas menos explícitas e cenas bastante fortes, esse segundo volume traz questões polêmicas como práticas sadomasoquistas, homoafetividade/homossexualidade, pedofilia, chantagem emocional, violência e questões ligadas à religiosidade e fé. Algumas cenas trouxeram simbolismos que mexeram demais comigo, apresentando uma espécie de terror psicológico e outras uma agonia fora do normal. A cena do parto, especificamente, traz um apelo para questões ligadas a fé, não sei se na tentativa de chocar ainda mais o público ou na forma de um apelo emocional, tendo em vista que bebês são normalmente tidos como seres angelicais, divinos.
Ainda assim, mesmo com 40 chibatadas de aflição, o diretor finaliza seu longa sob uma perspectiva humanizada da ninfomania ou compulsão por sexo, como preferir. Joe diz sua compaixão pelo homem que reprime seus desejos sexuais amorais e decide mudar sua postura diante de seu problema. O final... bom, final é feito à própria maneira do diretor, repleto de críticas a falsos moralismos, hipocrisia, fuga e esquecimento. Para o dinamarquês, o mal pode e deve ser punido e aquele que age com generosidade e não tem o devido reconhecimento de sua ação merece agir com truculência. Nessa onda do aqui se faz, aqui se paga, Joe aperta o gatilho e mata seu passado.

Texto escrito e postado por Gabriella Poles.

Exposição Castelo Rá-Tim-Bum no MIS


Castelo Rá-Tim-Bum foi um programa educativo de televisão brasileiro voltado para o público infanto-juvenil, eleito o melhor programa infantil. Conta sobre um garoto de 300 anos chamado Nino, aprendiz de feiticeiro que mora num castelo no meio da cidade de São Paulo.
Ao longo de seus 192 episódios, reprisados por muito tempo, conhecemos vários personagens e por ser um programa educativo para o público infantil, muitas crianças aprenderam sobre higiene, cultura, ciências, matemática e outros.

Foi meu programa favorito por muito tempo quando criança e depois de tanto tempo pude relembrar os episódios na incrível exposição no MIS, em São Paulo.

O MIS apresenta a mostra Castelo-Rá-Tim-Bum – A exposição, é um tributo ao programa que completa 20 anos do início de sua veiculação.

A exposição, que ocupa o primeiro e o segundo andares do Museu. Podemos conferir peças do acervo, muitas delas recuperadas e restauradas, como objetos de cena, fotografias, figurinos dos personagens e trechos do programa que até hoje são hit, como Lavar as Mãos, depoimentos gravados pelos atores do elenco original especialmente para a exposição.
É uma experiência nostálgica, podemos literalmente entrar no castelo e conhecer os ambientes como a biblioteca, o laboratório de Tíbio e Perônio, o quarto do Nino, escritório do Dr. Victor, está tudo recriado. Também podemos ver de perto bonecos originais, como o Gato Pintado, o monstro Mau, a cobra Celeste e as botas Tap e Flap.

Essa exposição foi um sucesso, milhões de pessoas puderam ter essa experiência de relembrar algo que fez parte de nossa infância, assim como eu.
Recomendo a visitação!

postado e escrito por Débora Waller

Resenha do filme Dogville de Lars Von Trier

Dogville é a prova de que excelentes atores, roteiro e direção são as verdadeiras chaves para execução de uma obra-prima. A simplicidade do cenário é esquecida diante da linguagem e presença dos atores, que se articulam muito bem no pequeno espaço delimitado. O filme é mais que uma obra audiovisual: ele faz associações ao teatro e à literatura a todo instante, mostrando que todas as linguagens artísticas na verdade se fundem em uma só. 
A ausência de trilha, deslocamentos geográficos e temporais exigem uma entrega maior dos atores e aí vale ressaltar a maestria da atuação de Nicole Kidman. Não sou conhecedora, mas vi algumas influências do teatro do absurdo, principalmente na interação com objetos imaginários.
Sobre o roteiro e enredo, pode-se dizer que o filme diz respeito a um vilarejo simples, um ambiente em que nada acontece e nada altera a rotina daqueles que ali vivem. Isto é, até a chegada de Grace. Um filme sobre poder, hipocrisia, moral, altruísmo, perdão e vingança. 
Grace se refugia no vilarejo fugindo de alguns gangsters. Tom, um escritor que adora pregar sermões moralistas para os moradores, acolhe a garota a fim de usá-la como "ilustração" para seus argumentos. Os moradores aceitam que ela permaneça, porém para isso ela deverá dar-lhes algo em troca. Seu trabalho vira moeda de troca para sua permanência e aceitação. 
Obviamente, diante da resignação e condição passiva de Grace alguns abusos surgem. Ela passa a ser humilhada, maltratada e chantageada, vivendo sob ameaças de ser entregue à polícia. Todas as agressões que sofre são escancaradas e aqui o cenário simplista entra com um papel fundamental: sabe aquela frase do que acontece entre 4 paredes permanece entre 4 paredes? Então, não há paredes! Fica esse jogo de que todos ali sabem o que acontece, mas ninguém tem coragem de encarar a realidade. Isso induz um sentimento de revolta em quem assiste e aí, Lars Von Trier anuncia outra referência do teatro. Como nas tragédias gregas, há uma reviravolta na trama: o diretor conduz o telespectador para um final trágico. Dogville é um retrato sobre como as pessoas podem ser mesquinhas, ardilosas, egoístas e instintivas. Isso gera um sentimento de desprezo tanto em quem assiste quanto na personagem principal. Grace permite-se ser uma prisioneira, mas na realidade os presos são os moradores da vila. A pior prisão é a das correntes invisíveis, aquelas que não nos permitem mover ou enxergar uma possibilidade de saída de uma situação. 
Em todo o filme há um sentimento de perdão, mas até a mais bondosa das pessoas sabe que é impossível perdoar a fraqueza e ausência de caráter. As pessoas de Dogville tem caráter duvidoso e se aproveitam de toda e qualquer situação. Seus comportamentos, se fossem somente animais, só se revelariam de forma negativa perante à ameaça. Os comportamentos instintivos aqui são humanos mesmo: só os homens conhecem a vingança, a necessidade de sobressair ao outro e passar por cima de valores morais e éticos. Grace perdoa até quando sente a última gota de esperança, mas Dogville é um lugar fadado ao desprezo e crueldade, logo seu maior gesto de bondade e honra à paisagem que lhe acolheu é, ao ir embora, levar Dogville consigo.

Postado e escrito por Gabriella Poles

Dark side of Oz

O mágico de Oz é um filme estadunidense de 1939 que conta a história de uma garota chamada Dorothy que é capturada por um tornado no Kansas e levada para o mundo de Oz, uma terra de fantasias com bruxas, leões covardes, espantalhos falantes e muito mais. Um dos primeiros filmes coloridos, O Mágico de Oz faz um uso notável da técnica: as sequências no Kansas são transmitidas em preto-e-branco, enquanto as cenas na terra de Oz recebem as cores.
É um filme incrível, uma mistura de ingenuidade com fantasia, muito sofisticado para a época, revolucionando a indústria cinematográfica.

O mais curioso do filme é a sincronicidade com o álbum Dark Side of the Moon, do Pink Floyd que quando colocados juntos, notamos muita sincronia, já conseguiram descobrir mais de 100 momentos de conexão entre o filme e o disco. Por exemplo, o verso "balanced on the biggest wave" ("balançado na maior das ondas") de Breathe é cantando enquanto Dorothy balança em cima de um muro; "who knows which is which" ("quem sabe quem é quem") de Us and Them é cantado enquanto as bruxas boa e má se confrontam; "the lunatic is on the grass" ("o lunático está na grama") de "Brain Damage" é cantado enquanto o Espantalho, cujo corpo é preenchido com grama seca, age freneticamente como um louco; as batidas de coração ressoam enquanto Dorothy encosta seu ouvido no peito do Homem de Lata; e minha cena favorita, onde cidade do Kansas é invadida por um tornado, que vai causando um momento de tensão, sendo enfatizada pela música The Great Gig on the Sky.

Apesar de famoso, a origem do efeito é misteriosa, bem como as ocorrências que levaram à sua descoberta. Os membros do Pink Floyd repetidamente insistem que o fenômeno é pura coincidência, a banda negou qualquer relação entre o disco e o filme, dizendo que na época da gravação de Dark Side não havia tecnologia para reproduzir o filme no estúdio ao mesmo tempo em que gravavam o álbum.

Sendo coincidência ou não, vale à pena conferir o filme junto com esse belíssimo álbum.



postado por Débora Waller